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O recente estudo da CCP sublinha a posição única de Portugal na Europa no que diz respeito à dinâmica do consumo e da produção, revelando a forte dependência do país em relação aos serviços no consumo das famílias, ao mesmo tempo que regista um atraso na “servitização” da produção. Esta disparidade, particularmente acentuada no setor da indústria transformadora, coloca desafios à competitividade de Portugal na cena mundial.

 

As principais conclusões do estudo sublinham a posição excecional de Portugal nas economias europeias, demonstrando o domínio dos serviços no consumo das famílias, que atingiu uns impressionantes 80-83% em 2018. Em particular, a contribuição do comércio e dos serviços para o valor acrescentado bruto (VAB) total gerado nas atividades ligadas ao consumo privado foi significativamente mais elevada em Portugal do que noutras nações em análise.

 

No entanto, embora Portugal se destaque no aspeto do consumo, enfrenta um obstáculo significativo no panorama da produção. O conceito de “servitização”, que representa a necessidade crescente de serviços na produção de bens, é notoriamente baixo em Portugal, especialmente na indústria transformadora. Esta deficiência afeta a competitividade, dificultando a capacidade do país para aumentar o potencial de exportação e a criação de riqueza.

 

O economista Augusto Mateus destaca o papel central da “servitização” na produção, referindo o seu potencial para reforçar a competitividade, aumentar a capacidade de exportação e, consequentemente, elevar a criação de riqueza e a remuneração do trabalho.

 

Comparativamente, Portugal está muito atrasado na “servitização externa” no que respeita à aquisição de serviços intermédios para a produção de bens. A diferença é evidente quando justaposta com economias como a Alemanha, a República Checa e a Itália, que apresentam níveis de servitização significativamente mais elevados.

 

Nas indústrias transformadoras, Portugal regista os valores mais baixos de “servitização”, especialmente quando comparado com a Espanha, a Alemanha, a República Checa e a Itália. Esta divergência torna-se mais evidente nas indústrias que dependem dos recursos naturais ou da intensidade do trabalho direto. Embora a competitividade dos custos continue a ser vital, o estudo sublinha a importância de fatores não relacionados com os custos, como a diferenciação e a adaptação à segmentação da procura, para promover a competitividade.

 

Além disso, o estudo destaca a evolução do papel dos serviços na emergente “economia de valor”, assinalando uma mudança em relação à tradicional “economia de quantidade”. Os serviços desempenham atualmente um papel central na reformulação dos modelos de consumo e de produção, impulsionados pela extensão da inovação através das tecnologias da informação.

 

Esta transformação reflete uma compreensão mais profunda dos desequilíbrios decorrentes da globalização e da influência da economia baseada no conhecimento sobre o emprego. Esta consciência tornou-se ainda mais crucial na sequência da pandemia, amplificando a necessidade de reorganização económica.

 

Em última análise, o panorama económico de Portugal revela um paradoxo: uma economia orientada para o consumo e fortemente dependente dos serviços, mas um sector de produção que não consegue incorporar os serviços de forma a otimizar a produção. A resolução desta disparidade é fundamental para a competitividade de Portugal a longo prazo e para a sua capacidade de prosperar no cenário económico global em evolução.

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